sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Abandono Íntimo Involuntário

Não sou mais eu, senão outro que nasce, cresce e toma conta de mim, de dentro para fora.
Meu gesto não é mais meu gesto. Meu toque há muito deixou de ser meu...
Automático. Involuntário. Sem interesse, nem afeto.
Os olhos fitam algo que jamais quisera.
Não sou mais eu, senão uma meia vontade de vontades meias em face da vida.
Não há mais passo em meu passo, nem caminhada no meu caminhar...
Abstração das ideias e corpos. Destituição autodeterminada.
Não há mais nada, de mim, na carne que conteve meu ser.

Interessa-me

Interessa-me, neste momento, o não-sonho dos loucos.
A perturbação que inunda suas mentes agudamente adentro.

Deusa da Minha Rua

A deusa da minha rua
Com os olhos negros invade meu coração.
Ela é anjo de candura
Mas, também, firme em decisão.

A deusa de minha rua
Tem um nome todo especial
Tem cheiro de grama verde
E a pureza do animal.

Ela é bela, mesmo bela.
Tem sorriso angelical...
Entra e sai sem embaraço
De meu ser que é seu umbral.

Adeus, Amor

Hoje, te arranco de minha alma.
Fostes o sol para minha vida e o ar dos meus pulmões...
Contudo, tua não correspondência e pouca profundidade arrefeceram meu desejo pulsante de amor.
Deixo-te, pois, fenecer dentro de mim
E desfazeres-te, a medida que este tempo passar.

Como sou nada, serás nada, também.
Migalhas não subsidiam a vida feliz.

Amor Sozinho

Amo um ser que não ver.
Amo um ser que se faz centro de meu mundo, não tendo, contudo, ciência disso, ele.
É um ser que sei inacessível. É amor que sei irrealizável.
Meu amor, sempre guardou, junto de si, dor e amargura.
Nada seria fácil, tudo seria loucura.
Vi-me despojado de todas minhas defesas,
De todo meu comedimento.
Eu era dele e estava entregue à sua sorte.

No entanto, os olhos do amor que tenho tem brilho voltado para outras estrelas.
Tem vontades e necessidades que o afastam, mais e mais, de mim.
Restando-me, pois, o amargor de uma solidão não querida:
A rara que me permito.

Ele que todo meu corpo tem e que perturba cada ideia minha.
Ele que tem o cheiro do paraíso perdido, naturalmente esplendoroso.
Ele que meus abraços não abraçarão.

O amor é algo difícil.
O amor não não para minha satisfação.
Agora, tenho, somente, que passar.
Há limitação. Há dor. Há algo por vir.

O Caminhar Sozinho

O afastar-me dos demais apraz meu espírito.
Não existe aconchego na comungação da superfície.
Ou, talvez, prefira a caminhada solitária, por entendê-la mais justa.
Os outros, muitas vezes, são a irrelevância da vida.
São o símbolo latejante de nossa carência.
O que nos conforma que nos torne tão incompletos?
Tão desejosos do vínculo social?
Digo eu: nada.
No que diz ao meu respeito é mais conveniência e menos necessidade de interação.
Eu prescindo da futilidade das relações e palavras.
Prescindo de fingir interesse.
Por óbvio, eventualmente, uma ou outra concessão faz-se adequada.
Afinal, os outros são seres, igualmente, desejos e carentes.

sábado, 17 de maio de 2014

GRAÇA DESPREOCUPADA

A graça dos despreocupados.
É a graça, a graça dos despreocupados.
Dos que andam, dos que riem sem se importar.
Dos que falam, dos cantam sem para os outros ligar.
A graça, a graça dos despreocupados...
Que amam e odeiam sem máscaras usar.
A graça, a graça no porte e no portar.
É a graça, do caboclo, menino.
É graça que vem e não vai.
É a graça de vestir-se às avessas
E mostrar-se diante dos homens nus.

A graça. A graça de orbitar outras esferas
Mais leves, mais atrevidas, mais humanizadas.
E dizer, todos os dias, pro mundo:
- Eu sou homem pensante e nada mais há.

A graça dos despreocupados.
Que vão e vem, que vieram e foram.
Dos que ostentam na face
A humanidade crua. Fria. Viva. Quente.
Mordaz.

- Tiago Silva

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Desesperança

Estou sozinho no mundo.
Eu, o execrável.
Não há nada mais para mim.
Não haverá mais ilusões.
Nem esperanças.

Já recebi todas as dádivas que estas criaturas medíocres poderiam me ofertar.
Rejeição. Solidão. Desesperança.
A luz, agora, será só minha.
Brilhará somente para mim.
Não buscarei mais.
Pois não se busca aquilo que inexiste.

Decido.
Far-se-á.