quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Miséria Real













Duas colheres de arroz.
Uma ínfima porção no prato.
É o que a pobreza não rejeita,
É o que ela dá ao filho ingrato.

Abre tua boca.
Engole o mundo,
Pois tudo te pertence, embora nada seja teu.

Não grite, não chore.
Não se desespere.
A tua dor é tua fome,
Que tua esperança ingere.

Oh, meu amigo...
Que pena.
Não consegues com os teus braços o teu alimento.
Há mais terrível sofrimento?
Deves, tu, deitar-te em uma cama,
Se tiveres cama,
E morrer em paz?
E morrer de fome?
Ou comer a própria carne?

Deves?
Deves arrancar teus olhos para que nada mais vejam?
Para que não vejam tua miséria,
Tua vergonha, teu medo?

Deves chorar?
Deves amaldiçoar o mundo?
O que deves fazer posto que não podes fazer nada?

Ah, como te parece atraente a tal morte.
Ah, como querias correr...
Desse mundo de fronteiras,
As quais difíceis são de romper.

Não obstante, não aflijas teu coração agora.
Espera mais um pouco, espera tua hora.
Ela virá.
Para o bem ou para o mal, virá.

Espera mais um pouco, meu pobre irmão!